Mato Grosso é único estado da Amazônia Legal a registrar alta no desmatamento em cinco meses
O desmatamento continua crescendo em
Mato Grosso, confirmando uma tendência que já vem sendo registrada nos
últimos três anos. Os dados de monitoramento por satélite mostram que,
entre agosto e dezembro de 2015, Mato Grosso foi o único estado da
Amazônia Legal onde o corte raso da floresta aumentou (16%), em
comparação com o mesmo período de 2014, passando de 362 quilômetros
quadrados para 419 quilômetros quadrados. Nos demais estados houve queda
nas taxas de desmatamento. Os dados foram divulgados nesta semana pelo
Sistema de Alerta do Desmatamento (SAD), do Instituto do Homem e Meio
Ambiente da Amazônia (Imazon).
Os dados correspondentes aos cinco
primeiros meses do calendário oficial de monitoramento preocupam pois,
além de contrariarem a tendência de queda verificada na Amazônia Legal,
confirmam a tendência de retomada do desmatamento que vem sendo
registrada desde 2013, com altas progressivas desde o ano de 2013.
Uma análise detalhada do Instituto
Centro de Vida (ICV), de Mato Grosso, aponta que o desmatamento total
detectado entre agosto e dezembro de 2015 representa um aumento de 670%
em relação a esse mesmo período no ano de 2013.
Essa frente de forte expansão de desmatamento está concentrada, principalmente, na região noroeste do estado, onde ainda há um grande maciço florestal e onde acontece uma pressão para abertura de novas áreas para utilização agropecuária. Colniza continua liderando o ranking dos municípios que mais desmataram no estado, sendo responsável pelo corte raso de 74 quilômetros quadrados de floresta, o que significa 19% de todo o desmatamento registrado. Na mesma região aparecem ainda Cotriguaçu, com 26 quilômetros quadrados desmatados, Juína e Juara, responsáveis, cada um, pela supressão de 14 quilômetros quadrados de floresta.
Neste cenário, dez municípios foram responsáveis por mais de 60% do desmatamento detectado em solo mato-grossense.
Para Alice Thuault, diretora adjunta do
ICV, o momento é grave e exige uma resposta rápida e contundente por
parte do governo do estado para enfrentar o problema. “Esta é uma
situação que demonstra o quanto é necessária a implementação de uma
estratégia para combater o desmatamento. Representa uma oportunidade
para o governo do estado implementar as medidas anunciadas no final do
ano passado, durante a COP- 21, em Paris, que prevê o fim do
desmatamento ilegal em Mato Grosso”, reforçou.
A referência é ao anúncio feito pelo
governador do estado, Pedro Taques de um pacote de medidas para zerar o
desmatamento ilegal no estado até 2020, prevendo a redução de 90% da
taxa geral no bioma amazônico e 95% no cerrado. Na época, o governador
reconheceu como inaceitável o aumento no desmatamento em Mato Grosso e
se comprometeu a implementar uma estratégia intitulada Produzir,
Conservar e Incluir, composta por ações nestes três eixos. Na produção, o
estado pretende substituir 6 milhões de hectares de pastagens com baixo
rendimento em áreas de alta produtividade, compostas por 3 milhões de
hectares de plantio de grãos, 2,5 milhões de pecuária e 500 mil de
floresta plantada.
Para conservação, os principais pontos
incluem, além da meta de reduzir o desmatamento, manter os 60% de
vegetação nativa existente hoje no estado e recuperar 2 milhões de
hectares de áreas de preservação permanente (APPs). A parte de inclusão
traz pontos ligados ao aumento, de 20% para 80%, da participação da
agricultura familiar no mercado interno de alimentos, com a
regularização fundiária em 70% dos lotes, com aumento do acesso ao
crédito.
Daniela Torezzan/ICV