Quatro
crianças faleceram de diarreia e vômito na terra indígena Xavante de
Marãiwatsédé, nos municípios de Alto Boa Vista, Bom Jesus do Araguaia e
São Félix do Araguaia, nordeste do Mato Grosso. Para os indígenas, a
água dos córregos utilizada pela comunidade pode estar contaminada em
função do uso constante de agrotóxicos nas fazendas do entorno da área.
Os casos ocorreram dois meses após a desintrusão do território Xavante,
um em janeiro e três em março.
As quatro crianças
- todas netas do cacique Damião Paridzané – apresentavam quadro agudo
de desidratação, em função de diarreia e vômito. A última a falecer, no
domingo (24), uma menina de um ano, teve por quase um mês diarreia com
sangue, vômito e febre. "Ela foi internada na aldeia. Fazia três semanas
que tava ruim. Foi no hospital antes, aí ficou, melhorou um pouco e
voltou. Aí continuou a diarreia e sangue, e não aguentou, morreu",
relata o indígena Wanderley Daduwari.
Outra
menina de um ano, morta no dia 18 de março, ficou uma semana internada
no hospital. "Levou e cinco dias depois deram alta. Retornou para a
aldeia. Um dia depois, continuou a doença, vômito e diarreia", relata o
indígena Alcione Xavante. "A gente levou ela de volta ao posto de saúde
em Bom Jesus de Araguaia, ficou internada um dia. Lá ela desmaiou, então
tinha que levar no hospital. Aí no dia 17, na madrugada de domingo pra
segunda, levamos no hospital na outra cidade [Alto Boa Vista]. Esperou
três horas pra atender, ficou sem lençol. Aí internou, mas ela não
aguentou e morreu". As outras duas crianças, de um e três anos, morreram
em circunstâncias similares.
Para Alcione, a
comunidade está vivendo um surto de desidratação. "As crianças estão
tendo ainda [desidratação]. A maioria é criança. Tem umas 30 crianças
assim agora lá", afirma. Para ele, o uso recorrente de pesticidas pode
ter contaminado os lençóis freáticos e os córregos utilizados pela
comunidade para beber, banhar e cozinhar.
Agrotóxicos
Wanderley
afirma que o uso de agrotóxicos nas fazendas vizinhas a Marãiwatsédé
impactam diretamente na saúde da comunidade. "Tem fazenda na divisa da
terra indígena, a 10 quilômetros da aldeia, que usa agrotóxico. Tem
outra a 13 quilômetros, e outra a 30, todas usam veneno sempre. Aí a
gente começa a ter febre, gripe, dor de cabeça, dor geral. A gente
respira isso, bebe isso, aí passa mal", explica Wanderley.
Alcione
acredita também que resquícios do uso de veneno no período em que o
território estava ocupado por fazendas também sejam responsáveis pelas
doenças e mortes. "Mas não dá pra saber ao certo. Tem que fazer análise
dessa água. Porque essa água já foi poluída pelo veneno. Então tem que
analisar", diz.
"A situação é muito triste", diz
Alcione. "Tá faltando muita medicação lá no posto. O médico pede, mas a
Sesai [Secretaria Especial de Saúde Indígena] não entrega. O posto não
tem energia elétrica, falta medicamento. Só tem um carro, se duas
pessoas estiverem com emergência, a outra vai ficar sem ser socorrida",
conclui.
Foto: Arquivo/Cimi
Fonte Brasil de Fato
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