terça-feira, 19 de março de 2013

Audiência pública alerta população sobre os malefícios do agrotóxico


Proporcional a fama de maior produtor de grãos e carne bovina, Mato Grosso é também o estado que mais utiliza agrotóxicos e fertilizantes químicos em suas lavouras e pastagens. O uso dos agrotóxicos foi tema da Audiência Pública convocada pelo deputado Ademir Brunetto (PT), realizada no dia 06 de março, na Assembleia Legislativa de Mato Grosso (AL/MT). A audiência fez parte das atividades organizadas na Semana do Dia Internacional da Mulher.

Segundo a coordenadora do Coletivo de Mulheres do Sintep/MT, Marli keller, o objetivo audiência foi debate o uso excessivo de agrotóxicos na produção agrícola de Mato Grosso e o impacto na saúde das mulheres e do meio ambiente.


Marli keller lembra que o tema vem sendo amplamente estudado, desde o acidente ambiental causado pela pulverizações aéreas de agrotóxico que atingiu a área urbana do município de Lucas do Rio Verde-MT, em março de 2006. “Na época, uma série de reportagens sobre investigação do crime, a contaminação e os efeitos dos venenos foram realizadas e desde então tem se intensificado o debate sobre este modelo de desenvolvimento baseado no agronegócio”, explicou a secretária de organização sindical do Sintep/MT.

Durante a audiência os professores e pesquisadores do Núcleo de Estudos Ambientais e Saúde dos Trabalhadores da Universidade Federal Mato Grosso e do Centro de Estudos de Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana da Fundação Osvaldo Cruz, sob a coordenação do Dr. Wanderlei Pignati e Dra. Eliana Dores, ambos da universidade federal e mais dois médicos da fundação, apresentaram estudos comparando dados epidemiológicos das regiões do estado com diferentes níveis de utilização de agrotóxicos.

Nas três regiões do agronegócio da soja, milho e algodão, há uma incidência três vezes maior de intoxicação aguda, foram analisadas a urina e o sangue de professores e moradores das áreas rurais e urbanas das cidades de Lucas do Rio Verde e Campo Verde, municípios que estão entre os principais produtores de grãos do estado.

De acordo com o professor Pignatti foram coletadas amostras de leite de 62 mulheres, três da zona rural, entre fevereiro e junho de 2010, e a presença dos resíduos foi detectada em todas elas. As pesquisas indicaram o aumento da incidência de doenças como má-formação genética, câncer e problemas respiratórios, especialmente em crianças com menos de cinco anos de idade. No caso das mulheres, que segundo as pesquisas são as mais prejudicadas com a intoxicação por agrotóxicos, agudas e crônicas, acarreta câncer, distúrbios endócrinos, distúrbios neurológicos e respiratórios, abortos entre outros problemas.

“Percebemos que onde a produção é maior, há mais casos de intoxicação aguda, como diarreia, vômitos, desmaios, mortes, distúrbios cardíacos e pulmonares, além de doenças subcrônicas que aparecem um mês ou dois meses depois da exposição, de tipo neurológico e psiquiátrico, como a depressão. Há agrotóxicos que causam irritação ocular e auditiva, outros dão lesão neurológica, com hemiplegia, neurite da coluna neurológica cervical”, destacou o professor Pignati ressaltando que “para nós da saúde pública não existe uso seguro de agrotóxico”.

A pesquisa também apontou resíduos de vários pesticidas nos sedimentos dos rios pertencentes a bacia hidrográfica do Pantanal.

Outra pesquisa apresentada pelo Fórum Mato-Grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento (FORMAD) apontou os impactos causados pela produção de cana e soja. A coleta de dados da pesquisa foi realizada nos campos de Barra do Bugres e Lucas do Rio Verde.

De acordo com o relatório apresentado pelo FORMAD, no caso específico da produção de cana-de-açúcar, além dos aspectos comuns ao monocultivo, dentro da Bacia do Alto Paraguai, região excluída no Zoneamento da Cana, justamente pelos problemas socioambientais causados pelas usinas na região e que ameaça a preservação do Pantanal, destrói os padrões culturais das populações tradicionais, que têm laços estreitos com a natureza. Por exemplo, os Umutinas não conseguem mais sementes para suas atividades artesanais.

O relatório do FORMAD apontou um aumento do índice de Hanseníase, pedras na vesícula, dores de estômago e de cabeça, aumento de doenças de pele e outras, principalmente nos períodos em que agrotóxicos são aplicados. Também aumentou o número de abortos espontâneos e bebês com refluxo e o alto risco de contaminação por agrotóxicos dos alimentos produzidos e pescados na região.

Outro agravante apontado nos estudos do FORMAD é em relação a saúde dos trabalhadores/as que cortaram cana, que tornam-se inválidos, após 12 anos de trabalho. Ainda, os pesquisadores chamam a atenção à ausência de acompanhamento e estatísticas oficiais sobre problemas de saúde específicos da região.

Segurança alimentar

Os estudos também apontam que a expansão da soja nesses municípios ameaça a segurança alimentar da população, pois vem ocorrendo um processo de queda do cultivo de produtos importantes na dieta alimentar, como feijão, milho e algumas frutas. Essa queda, bem acima da média estadual, regional e nacional, tem ocorrido no mesmo período em que o monocultivo da soja se expande nesses municípios.

Para Marli keller vale lembrar que Cuiabá integra o grupo das cinco capitais brasileiras que não possuem feira de alimentos orgânicos. “Uma produção agroecológica, somada às práticas de consumo consciente, além de fortalecer a agricultura familiar, que se contrapõe ao modelo do agronegócio também forma de desenvolver ações de preservação ambiental, social e econômica, numa perspectiva de sustentável que garanta a segurança alimentar”, avalia mencionando o uso de venenos proibidos no resto do mundo e que ainda são utilizados no Brasil.

Reivindicação 

Um documento elaborado pelo Comitê Estadual de Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, juntamente com os representantes do Movimento dos Sem Terras e pesquisadores da UFMT solicitou dos parlamentares apoio e maior comprometimento com o meio ambiente e com a saúde da população expostas direta ou indiretamente pelos agrotóxicos.

Carta apresentada à AL-MT sobre os impactos do uso de agrotóxico

Ao Exmo Sr.
Dep. José Riva
Presidente da Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso
Exmo Sr.
Ademir Brunetto
Dep. Estadual
E demais autoridades.

O Comitê Estadual da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, juntamente com representantes do MST, do FORMAD e pesquisadores da UFMT, vem por meio desta apresentar nossa preocupação com relação à Saúde e ao Ambiente do Estado de Mato Grosso devido ao uso dos agrotóxicos nas lavouras e propor medidas de controle e fiscalização, cobrando dos senhores deputados estaduais maior comprometimento com o meio ambiente e com a saúde da população expostas a agrotóxicos.

Um resumo executivo está anexo a esta carta para sustentar cientificamente os debates sobre os riscos e malefícios à saúde humana causada pelos agrotóxicos.

Mato Grosso vem se destacando como maior produtor nacional de cereais, gado, girassol e algodão, mas também é o maior consumidor nacional de agrotóxicos. Porém, esta utilização intensiva de agrotóxicos, seja por avião, trator ou pulverização manual, leva a poluição dos alimentos, das águas, do ar, da chuva e consequentemente a contaminação dos humanos, dos animais e de toda a biota do entorno ou sob influência das pulverizações.

Esta poluição ambiental por agrotóxicos expõe e contamina o ser humano, principalmente o leite materno, o sangue e urina e provoca intoxicações agudas, distúrbios endócrinos, neurológicos e mentais, malformações congênitas em recém-nascidos, aumento de casos e da mortalidade por câncer em mulheres, homens e crianças nas regionais do estado de maior consumo de agrotóxicos.

Devido às implicações relacionadas ao uso de agrotóxicos no Estado de Mato Grosso queremos refletir sobre o atual modelo de produção agropecuário sugerindo medidas para que a população do estado não continue sendo vítima dos danos ambientais e agravos à saúde provocados por esse modelo de processo produtivo agrícola.

Diante do exposto, elencamos algumas propostas para serem executadas pela Assembleia Legislativa e respectivas Secretarias Estaduais responsáveis pelas ações exigidas:

Cumprimento das legislações sobre produção, registro, revenda e aplicação de agrotóxicos nas lavouras do estado; Proibir no Mato Grosso, o uso e aplicação de agrotóxicos proibidos na União Europeia; Implantar no Estado a Vigilância à Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos; Implementar no Estado e municípios as ações de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador; Implantar em Cuiabá, um Centro de Atendimento e Laboratório Estadual de Toxicologia para a saúde dos trabalhadores, poluições ambientais e populações expostas aos agrotóxicos; Melhoramento da qualidade dos serviços de registro e de notificações para as intoxicações agudas e crônicas; Implantar um Sistema de Monitoramento de Resíduos de agrotóxicos em água potável, no ar, na chuva, no leite materno dos bancos de leite e nos alimentos; Implantar e monitorar a qualidade das águas superficiais e subterrâneas nas regiões de grande produção agrícola e no Pantanal; Incentivos à implantação de práticas agroecológicas no estado; Cancelar os subsídios dos impostos fiscais públicos aos agrotóxicos; Proibição de pulverizações aéreas de agrotóxicos nas lavouras agrícolas do estado de Mato Grosso; Limitação da aplicação terrestre (trator e manual) de pulverização de agrotóxicos a uma distância mínima de 500 metros de fontes de água potável, zonas residenciais, criação de animais, córregos e rios; Proibição do uso de agrotóxicos e fertilizantes químicos na Bacia do Alto Paraguai (BAP) e principais afluentes que alimentam a planície do Pantanal; Criar campanhas para conscientização, orientação, sensibilização da sociedade sobre a poluição ambiental e alimentar, exposição e contaminação humana relacionada ao uso de agrotóxicos; Implantar Feiras Agroecológicas nas cidades sedes dos Polos regionais de Mato Grosso.

Agradecemos a oportunidade concedida pelo Deputado Ademir Brunetto, que requereu esta Audiência Pública para debater o uso de agrotóxicos nas lavouras que impactam na vida das mulheres, homens e crianças e no ambiente, contribuindo com as comemorações do Dia Internacional da Mulher e a Semana de Lutas das Mulheres.

Com informações da Assessoria do Dep. Ademir Bruneto e Centro Burnier

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